sábado, 6 de setembro de 2008

Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembrança


Esse filme a princípio parece confuso no início, mas ao assistir na segunda vez percebi o quanto retrata o relacionamento de um homem e uma mulher, desbanca vários filmes sobre romances com finais felizes e a perversidades impostas a várias gerações no autoritarismo de amores exigentes e inflexíveis, que, arrebentaram incontáveis relacionamentos e impulsionaram a indústria dos antidepressivos, da literatura da tragédia amorosa humana e dos divãs encharcados de lágrimas – para não falar nos suicídios bem reais.
Na história do filme não temos panos-de-fundo políticos ou ideológicos, nem tão pouco frases, estúpidas, não há nem o príncipe encantado nem a princesa perfeita. Depois de algum tempo de relacionamento eles querem se ver livres um do outro (talvez num dejà-vu das histórias ouvidas sobre a ‘perfeição’ do amor), mas aos poucos se rendem, percebem que o par possível só pode ser o ser humano, fraco, indeciso, terno, bocó, único, forte, bruto, sublime, terno, convicto, genial, carente, ridículo, e por ai vai... e sem o poder de dominar a verdade pura.
O BRILHO nos mostra cruamente o quanto é importante o relacionamento entre pessoas que se olham nos olhos desde o início e, interessadas, vislumbram a possibilidade de reconhecer a outra alma, sem segundas intenções e sem beirar à pieguice, ou mesmo à inocência no seu estado mais manipulável. Sim. E não é necessário ir conhecendo o outro somente após estacionar os Audis, despir os Armanis, lavar os Chanel... . Tudo em ambientes reais onde não se vê assinaturas de grifes ou monumentos famosos, que tentavam comprar o quadro para referendar que o amor prefere lugares detalhadamente estudados. Se você perceber até os livros da livraria não apresentam nomes (aparecem todos em branco). A beleza das cenas insinua-se nos cabelos desgrenhados e mal-tingidos e em barbas por fazer, dentro de um veículo amassado. Ali a única arma de sedução é estar vivo.
O BRILHO revela também o quanto é inútil camuflar. A vida por si não propicia terreno para a mentira ou da manipulação antinatural. É impossível tentar apagar o que ficou gravado no coração. Não adianta utilizar jeitinhos de outrem para conquistar um alguém já tocado pelo outrem.
Algo que fica inexplicável, pois inexplicável é, a aceitação de ouvir um do outro o quanto se detesta certas peculiaridades e atitudes, certas manias e idéias, mas, ora, sem mais neuroses, eles querem ficar juntos.
O BRILHO é um filme que finalmente nos mostra a possibilidade de sermos aceitos e de podermos viver ao lado de outra pessoa simplesmente porque algo em nós pede. Isso é muito bom. É limpo é sincero e gerador de lembranças impossíveis de se apagar.
E no blog da designer Márcia Okida (http://okidadesign.blogspot.com/2008/03/brilho-eterno-de-uma-mente-sem.html ) ela faz uma análise interessante sobre o cartaz do filme bem como cita a música de Chico Buarque “Todo Sentimento” que coincidentemente tem tudo haver com o filme saca só:
Todo Sentimento
Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar e urgentemente
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu.

Um comentário:

Sexyback disse...

Profundo o que disse.Eu adorei...
Bjs