quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Quando conheci os DARKS


1988 - Outubro.

Quando no 4° Centenário o tédio estava tomando conta do lugar, a alternativa era migrar para a Vila Formosa, especificamente para a Praça Eduardo Cotching, no Bar do Chico, onde as doses dos destilados eram baratos e o Chico tocava nossas fitinhas K7 gravadas em casa mesmo e os papos rolavam noite afora...Num certo domingo passaram na praça os "Morcegões" (era como chamávamos os Darks e eles nos chamavam de Podrões) e duas Darks eram amigas de algus punks, daí perguntamos: - E ai? Onde vão? –Ah, vamos tomar vinho lá no "Formosa". – Podemos ir também?- Compra mais vinho ai e vamos embora...Compramos algumas garrafas de vinho barato (nem lembro o nome) e fomos lá no "Formosa" e eu ingenuamente pensei que o "Formosa" era algum bar, boteco, bimboca, sei lá o que e ao chegar no local tratava-se do CEMITÉRIO DE VILA FORMOSA!


Na época eu pouco sabia da cultura Dark e seus hábitos, mas vamos lá...no cemitério a noite é um silêncio assustador misturado com uma paz sem igual e de longe (apesar da escuridão clareada pelo luar) avistamos pessoas andando pelas ruas internas do cemitério...eram mortos ou vivos? Na verdade os Darks explicaram que eram os mendigos que dormiam lá a noite e tinham medo dos Darks, distanciando-se destes na medida do possível. Nos papos rolava uma grande discórdia por parte dos punks ignorantes sobre o termo pós-punk, nós não entendíamos ao certo o que era isso e as bandas The Cure, Siouxsie, Echo e Sisters, achávamos que de sonoridade punk não tinha nada e "Pós" então...piorou, daí o papo desviou para os locais que os Darks curtiam: Madame Satã, e outros diversos que não recordo, mas lembro que o termo "gótico" nunca havia ter escutado naquela época, enfim...acabaram as garrafas de vinho, já havia gente rindo a toa e a abelha já havia picado a língua...jogamos as garrafas na grande lixeira da entrada (respeito aos mortos é claro) e passei a conhecer um pouco mais sobre os Darks e a tolerá-los mais quando estes passavam na praça.


Por incrível que pareça, talvez pelo foco, começamos a encontrar mais darks no nosso bairro e as festinhas de aniversários começavam a convidar os punks e estes mais "comportados" sempre iam com uma fitinha no bolso da jaqueta e quando rolava um punk-rock, a molecada agitava o pogo juntos, mas quando começava o hard-core, as paredes eram o limite...nos sentíamos uns extra-terrestres, todo mundo na festa olhando curioso e risadinhas tímidas...bebida de graça? pode rir a vontade!!!


No outro final de semana sempre alguém da festa se aventurava a sair conosco mas era a primeira e única vez, sumiam... Outro dia conto a despedida do movimento punk da minha vida.

Na década de 90 comecei a curtir o tal "Pós-Punk" e suas letras profundas e sombrias...o som "Etheral" gosto até hoje, talvez mais que o som punk.

2 comentários:

Anônimo disse...

Adorei, e fiquei imaginando a cena: darks e punks no cemitério discutindo os "rótulos". rsrs

Fitinhas k-7, vinho barato, cemitério, festinhas na garagem...impossivel não sentir saudades de tudo isso, que época boa, tínhamos pouca informação mas éramos felizes! rs

Abs querido!!!!

Sexyback disse...

Punk eu amo esse som que vc colocou aqui!!!!!
Adoro ler suas aventuras, tudo de bom, mais um bom motivo pra se viajar nas palavras que o tempo não consegue apagar.
Bjs com saudades